terça-feira, 16 de setembro de 2008

Coisas dos Outros...Do nosso Vinícius.

Os acrobatas

Subamos!
Subamos acima
Subamos além, subamos
Acima do além, subamos!
Com a posse fisica dos braços
Inelutavelmente galgaremos
O grande mar de estrelas
Através de milênios de luz.

Subamos!
Como dois atletas
O rosto petrificado
No pálido sorriso do esforço
Subamos acima
Com a posse física dos braços
E os músculos desmesurados
Na calma convulsa da ascensão.

Oh, acima
Mais longe que tudo
Além, mais longe que acima do além!
Como dois acrobatas
Subamos, lentíssimos
Lá onde o infinito
De tão infinito
Nem mais nome tem
Subamos!

Tensos
Pela corda luminosa
Que pende invisível
E cujos nós são astros
Queimando nas mãos
Subamos à tona
Do grande mar de estrelas
Onde dorme a noite
Subamos!

Tu e eu, herméticos
As nádegas duras
A carótida nodosa
Na fibra do pescoço
Os pés agudos em ponta.

Como no espasmo.

E quando
Lá, acima
Além, mais longe que acima do além
Adiante do véu de Betelgeuse
Depois do país de Altair
Sobre o cérebro de Deus

Num último impulso
Libertados do espírito
Despojados da carne
Nós nos possuiremos.

E morreremos
Morreremos alto, imensamente
IMENSAMENTE ALTO.

Vinícius de Moraes

domingo, 14 de setembro de 2008

Eu queria..

Voltar para os lugares onde nunca fui, mas onde sempre quis estar.
Beber todos os porres que sempre quis...sem dirigir, é claro :) :) :)
Cantar, desafinar até...mas cantar todas as músicas, até as que ensaiávamos e nunca dava certo cantar.
Beijar todas as bocas que sempre quis beijar.
Dormir com todas as noites e quereres que sempre quis e cantei e olhei profundo.
E viver, e viver...
E viver.
E perdoar, e poder sorrir de novo com aqueles que me feriram.
Sem dor, sem raiva, sem medo..
Sem segredo...
Eu queria viver sem segredo.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Cansaço

Eita..
Cansaço...
Corpo que dói..
Que quer dormir..
Que dia longo
Que dia cedo,
Que estrada comprida,
Que légua tirana..
Das 5h às 24h...
Eu queria era voltar praquela casinha que tem lá no Rio Vermelho..Lá em cima..
Ninguém vê aquela casinha da lua,
Mas eu vejo, bem direitinho.
Quando tá escuro em todo o canto, lá é bem claro, mas um claro gostoso..
Como se a lua tivesse saindo..Lua rasgando, na praia.
Acho que Gabriela tá lá com seu Nassib,
Aho que o Pescador chegou lá pra ninar a Morena do Mar..
Acho que lá a gente dorme bem..
Dorme é muito..
Eu quero dormir.

domingo, 31 de agosto de 2008

...Urge...

Que vivamos,
Rápido.
Que aproveitemos,
Com urgência,
Que cantemos todas as canções,
Grandes, pequenas, bregas, xiques..quaisquer.
Que nos movamos..
Com pressa,
Com avidez..
Com desejo..
Amanhã, ou já, já,
Podemos não ter mais perna..
Podemos não mais pegar na mão..
Sequer respirar...
Urge..
RÁPIDO..
VAMOS...

domingo, 10 de agosto de 2008

Coisas dos outros...Bem escritas e contadas...Que eu gosto muito.....Muito.

Anseios.... Florbela Espanca

Meu doido coração aonde vais,
No teu imenso anseio de liberdade?
Toma cautela com a realidade;
Meu pobre coração olha que cais!


Deixa-te estar quietinho! Não amais
A doce quietação da soledade?
Tuas lindas quirneras irreais,
Não valem o prazer duma saudade!


Tu chamas ao meu seio, negra prisão!
Ai, vê lá bem, ó doido coração,
Não te deslumbres o brilho do luar!...


Não 'stendas tuas asas para o longe..
Deixa-te estar quietinho, triste monge,
Na paz da tua cela, a soluçar...

Os que amo...Para Raquel, minha amiga.

O filtro fez-se eficiente..
O tempo o ajudou..
Os quilômetros em centenas o ajudaram.
O filtro não deixou passar muito..Nem muitos.
E isso é muito bom.
Bom filtro este...
O tempo passou rápido demais..
Já passou e eu nem vi..
Quando abri os olhos cá estava,
Com tão poucos, muito poucos..
Mas imensamente meus.
Meus queridos,
Meus amigos
Minhas fontes.
Meu ninho,
Minha casa.
Onde deacanso, choro, rio,
Às veses rio de tantas lágrimas..
Onde me aquieto em águas calmas, serenas, sábias.
Com quem andei e ando em boas trilhas, em alegres trilhas...
Em doces cifras e suaves memórias,
Dos melhores tempos e dias.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Hoje, Só hoje.

Hoje iria linda para uma festa...
Com um vestido lindo, comprido, sensual..
Um belo vestido verde.
Aquele vestido verde, que eu amo!
E com um sapato que, sem me doer nem um pouco o pé,
Me deixaria mais alta, mais bela do que me sinto quando olho pra você.
E você me veria entrar na festa..
Sim, você me veria.
Você só me veria,
Naquela festa.
E, de um modo sinicamente casual,
Você se aproximaria de mim, em meio ao salão
Por entre os casais dançando..
E você diria:
Você quer dançar comigo?
Não, você não perguntaria..Você diria apenas.
E eu, atônita, desconcertada, responderia:
É claro que sim...E como não?
E estava tocando Nina Simone...
E só tocaria Nina Simone,
Por toda a noite..
Por toda a noite,
...
Por toda a noite.

domingo, 20 de julho de 2008

12410 dias vividos...

Um dia como outro qualquer...
Em que comemos, bebemos...
Mais um dia...
Mas um dia!
Só um dia..Dentre tantos outros!
Muitas dúvidas..
Poucas certezas,
Gratas e contundentes certezas.
Uma delas é a de que estou aqui ainda,
Sonhando, andando, pegando, vendo..respirando...respirando...respirando.
Ares nem sempre tão límpidos,
Criaturas nem sempre tão queridas..
Sensações nem sempre tão boas..
Mas cá estou, cá tambem sou!
Um brinde!

domingo, 6 de julho de 2008



...Jean..
Num cantinho, com um violão!

Quase Segunda-feira..Por mim mesma

Porque hoje é domingo!
Nenhum pé de cachimbo foi plantado!
O dia está frio...Muito frio.
Melhor seria que lã tivesse sido plantada.
E amanhã já nem iríamos trabalhar,
Pois haveria lã para colhermos...
Ah, preguiça!!! Dá-me de comer...
Farta-me..Não tenho medo de ti,
De tua cara, do teu pecar!
Adoro essa tua cara cínica, mas absolutamente feliz.
Adoro essa tua verdade...
Esses sonhos intermináveis, Impraticáveis,
Essa inércia imbatível,
Infinitamente enlaçada aos que amam a vida
Como ela é...E nada mais!
Por que hoje é domingo?
Porque infelizmente amanhã é segunda feira.

Coisas dos outros...Bem escritas e bem cantadas..

Um pedaço de Adriana Calcanhoto...Que eu adoro.. E que a Bruxa Andréa canta lindamente...

A Fábrica do Poema

Adriana Calcanhotto / Waly Salomão

"Sonho o poema de arquitetura ideal
Cuja própria nata de cimento
Encaixa palavra por palavra, tornei-me perito em extrair
Faíscas das britas e leite das pedras.
Acordo;
E o poema todo se esfarrapa, fiapo por fiapo.
Acordo;
O prédio, pedra e cal, esvoaça
Como um leve papel solto à mercê do vento e evola-se,
Cinza de um corpo esvaído de qualquer sentido
Acordo, e o poema-miragem se desfaz
Desconstruído como se nunca houvera sido.
Acordo! os olhos chumbados pelo mingau das almas
E os ouvidos moucos,
Assim é que saio dos sucessivos sonos:
Vão-se os anéis de fumo de ópio
E ficam-me os dedos estarrecidos.
Metonímias, aliterações, metáforas, oxímoros
Sumidos no sorvedouro.
Não deve adiantar grande coisa permanecer à espreita
No topo fantasma da torre de vigia
Nem a simulação de se afundar no sono.
Nem dormir deveras.
Pois a questão-chave é:
Sob que máscara retornará o recalcado?"


segunda-feira, 16 de junho de 2008

A vida

É vão o amor, o ódio, ou o desdém;
Inútil o desejo e o sentimento...
Lançar um grande amor aos pés de alguém
O mesmo é que lançar flores ao vento!


Todos somos no mundo «Pedro Sem»,
Uma alegria é feita dum tormento,
Um riso é sempre o eco dum lamento,
Sabe-se lá um beijo de onde vem!


A mais nobre ilusão morre... desfaz-se...
Uma saudade morta em nós renasce
Que no mesmo momento é já perdida...


Amar-te a vida inteira eu não podia.
A gente esquece sempre o bem de um dia.
Que queres, meu Amor, se é isto a vida!

Florbela Espanca.

sexta-feira, 13 de junho de 2008